Dias atrás eu estava estudando pra uma prova sobre "Amizade em Aristóteles", e eu fiquei surpreso com algumas coisas que aquele filósofo dizia há quase 2.500 anos atrás em relação às amizades. O mais interessante é que muitos daqueles conceitos poderiam ser facilmente aplicados aos relacionamentos, mesmo nos dias atuais.
O ser humano evoluiu (será que evoluiu mesmo?) em muitos aspectos ao longo dos séculos, mas a "essência humana" continua a mesma. O problema (ou seria a solução?) é que nós simplesmente continuamos humanos. Não podemos nos esquecer disso.
Aristóteles enumerava três formas de amizade. A primeira é aquela em função da utilidade. Duas pessoas são amigas porque são úteis uma para com a outra. Não basta que apenas uma delas seja útil à outra; deve haver reciprocidade. Assim, as duas devem proporcionar algo de útil.
A segunda forma de amizade é aquela em função do prazer que duas pessoas oferecem uma a outra. E eu não estou falando de prazer sexual, mas sim do prazer desfrutado numa conversa, numa pescaria, em alguma atividade esportiva praticada em conjunto etc. É o prazer da presença, da companhia agradável.
E é preciso deixar claro que não há problema em se construir uma amizade baseada na utilidade ou no prazer. O único detalhe é que essas amizades geralmente são frágeis, pois não estão fundadas na "pessoa em si", mas em coisas que aquela pessoa oferece. E, a partir do momento que aquela pessoa deixa de oferecer aquele prazer ou utilidade, a amizade se acaba. Esse é o ponto.
Por exemplo, alguém é amigo de outro porque sempre vão pescar juntos, uma vez ao ano fazem uma grande pescaria juntos no pantanal, se reunem aos finais de semana pra pescar, se juntam pra celebrar o resultado da pescaria com uma peixada. O que os une é o prazer em torno das coisas ligadas à pescaria. Se, porventura, um desses amigos deixa de gostar de pescar ou sofre um problema de saúde que o impossibilita de continuar pesando, com o tempo essa amizade vai se esfriar e se acabar. Aquele vínculo vai se acabando.
Já a terceira forma de amizade, segundo Aristóteles, é em função do que ele chama de virtude. É uma amizade baseada na pessoa, em seu caráter, em sua bondade absoluta, estável e imutável. "Eu gosto do fulano porque ele é bom e ponto final". Esse "bom" envolve muitas qualidades geralmente imutáveis, duradouras, ligadas ao caráter daquela pessoa.
O mais legal é que essa amizade baseada na virtude ainda traz consigo o aspecto do prazer e da utilidade pois, se uma pessoa é realmente boa pra outra, ela também será agradável e útil. É a amizade completa e absoluta. Ela é tranquila e segura.
A pessoa pode até passar anos longe daquele amigo e a amizade pode aparentemente se esfriar. Mas, assim que se reaproximam ou retomam o contato, essa amizade rapidamente se restaura e se fortalece.
Isso tudo me fez lembrar daquele ditado: "O problema é o mau caráter gente boa". A pessoa é agradável, educada, simpática. É prazeroso estar com ela por perto. Mas e os valores dessa pessoa? E os princípios, as prioridades, os objetivos?
Já pensou na possibilidade de uma pessoa ser super agradável, ser a pessoa mais bem humorada da turma, aquela com quem você pode contar a qualquer momento, mas essa mesma pessoa ser, nas "horas vagas", um pedófilo ou um contrabandista internacional de armas? Ou o amigo legal na festa e no churrasco, mas que chega em casa e bate na esposa? O exemplo é grotesco, mas não impossível. E serve pra mostrar como ser agradável ou útil são coisas que não estão necessariamente ligadas a um bom caráter.
E o que isso tudo tem a ver com relacionamentos? Eu acredito que, guardadas as devidas proporções, os relacionamentos seguem esse mesmo padrão das amizades. E os relacionamentos duradouros, aqueles que duram uma vida inteira, são fundados na pessoa em si, em seu caráter, em sua bondade, e não apenas naqueles aspectos - prazer e utilidade - que aquela pessoa oferece.
terça-feira, 3 de julho de 2012
Assinar:
Postagens (Atom)